terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ratosco

Ratosco


Olá! A história que vou relatar é muito incrível. Não imploro para que acredites. Mas quero apenas que me ouças. O teu ouvir, sim, muito me interessa. Escuta meu desabafo.
Mas... Não zombes de mim.

Era uma vez... Eu!

Eu, nestas idas e vindas do ciclo vital, nesta geração nasci rato. Sim, um rato grande e de cor plúmbea. Já fui homem em outras vidas e quase sempre desprezei os ratos. Aliás, não um mero desprezo, mas uma verdadeira perseguição eu encampei contra os ratos, sobretudo na minha última forma humana. Gatos vorazes, arapucas, ratoeiras, refeições com “chumbinhos”... Agora eu sinto no pêlo a ojeriza humana sobre a nossa espécie.

Nasci em um buraco no cais do Porto de Maceió. Fui criado sem pai. A minha mãe teve, segundo me passou, antes de mim, 29 filhotes. Nós ratos somos espertos, mas tememos muitos os humanos. Eles nos humilham e nos dão sempre sentença de morte. Além de nossos predadores naturais como as medonhas serpentes e os terríveis felinos da espécie Felis silvestris catus (os folgados e indiferentes bichanos que hoje estão ficando obesos e nem nos ameaçam como antigamente) há os humanos exterminadores de pragas. Pragas! Imagina... Eles é que nos são uma praga! Uns violadores de nosso direito de viver. Sorte mesmo têm uns indivíduos de outra espécie, mas que são muito próximos de nós. Têm a mesma superfamília Muroidea e a mesma ordem que nós: Rodentia, mas geralmente com uma caudinha meio curta. Ah, esses hâmsteres. São tão paparicados pelos filhotes dos humanos. Comidinha farta... Todos gordinhos... Mas eles vivem na gaiola quando os seus estimados humanos lhes adotam. Bem feito! Estão reclamando de quê?

Nós ocorremos no mundo inteiro. Há uns dez mil anos os humanos começaram a plantar e a colher os cereais para a alimentação nas planícies do Oriente Médio. Daí os nossos ancestrais selvagens escolheram essa nova dieta e migraram para as fazendas e depósitos de cereais. Com a procriação e alastramento dos humanos, nossos ancestrais passaram a coabitar em suas casas, partilhando sua comida e se beneficiando da proteção de suas paredes e telhados. Destarte, o rato selvagem se transformou no rato doméstico e peregrinou sempre em volta dos humanos.

Os sapos são animais feios, horripilantes, mas os humanos não os têm como inimigos figadais. Justificam para nos perseguir umas mazelas como a peste bubônica, a leptospirose, o hantavírus, entre outras. Mas quando alguém tem AIDS eles matam ou buscam remediar a doença? Só que nos laboratórios eles nos maltratam muito. Lá vivemos em verdadeiro campo de concentração, e colocam doenças em nossos semelhantes.

As fêmeas humanas fazem o maior alarido quando nos percebem... gritam, esperneiam, sobem em cima do sofá... Que coisa feia! Somos pequeninos e os humanos são quem nos assustam... Se os humanos nos exterminarem vai haver desequilíbrio ecológico! Até quando será esta perseguição?
Eu sou apenas um rato. O que eu quero é ser feliz!

Nota: É só uma historinha; nada a ver com crença religiosa.

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