sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

E apois! [minúsculo ensaio sobre o alagoês]


Sou alagoano e não me engano:
do jeitxo que digo e falo.
Ririam do que m'ufano,
mermo assim eu não me calo.

Nossa prosódia, bem nosso feitxo;
nosso falar bem arraXtado:
“Espia mermo s'isso tem jeitxo”...
Esse sotaque bem africado.

Noutras paragens no ti e no di chiam,
Mas aqui chiam após ditongo:
“eito” fica entre nós eitxo,
por isto dizemos peitxo,
E “eido” fica entre nós eidjo,
Seu exemplo é oblongo
É o flato no vulgar, diriam,
se na frente houver um P.

É que o homem se for afoitxo,
labutador e formidável,
trabalha antes dos dezoitxo.
É desde cedo responsável.

É arretada a nossa flora!
É muitxo lindo o nosso mar...
Só me arreto se for embora
a esperança deXte lugar.

Um dia a EXtrela  haverá de ser...
Radiosa a sua altura;
ser de Alagoas é não temer,
nem mesmo dias d'amargura.

Eitxa povo amiXtoso!
Hospitaleiro e mui leal.
E de espírito ditoso,
e de talento nada igual.

E quem nasce nas Alagoas?
Suspira sonhos, faX toadas...
Taeiras, guerreiros...
paXtoris,  cavalhadas...
Canta poesia, sofeja loas!

E se mangarem da minha fala,
eu vou dar uma de doidjo,
‘tou nem aí, isso é mala!

E p'ra lembrar da infância suave e cheia de bois:
"Boca de forno. Forno!
De cara Xis. Xis!  Fizesse o qu'eu fiz?"
“E apois!”

Em homenagem ao meu Tio Ronald Teixeira Cavalcante, um poeta nato da Viçosa das Alagoas. São Paulo (SP), 23 de setembro de 2010.

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