quarta-feira, 4 de maio de 2011

Por que Tiririca bobo e útil?

O Vicente, um amigo virtual de Guarulhos SP, me pediu explicações pelo Windows Live Message sobre um item do artículo Duo Verba ("duas palavras" em latim): Por que relacionei o Palhaço Tiririca, uma personagem interpretada por Francisco Everardo Oliveira Silva, um moço de Itapipoca CE, comediante, que veio a se tornar o deputado federal (Partido da República/PR) mais votado das eleições brasileiras de 2010, com 1.348.295 votos.

Em foco nas duas palavras, tratei-o por "bobo", primeiro em alusão à forma e estilo que traduzem a sua "famosidade": um palhaço de circo popular, bem do estereótipo daqueles que peregrinam pelos interiores deste Brasil mais rural e periférico; que escamoteia, muito no improviso, os gracejos, às vezes sem graça, mas que, ainda assim, tornam-se engraçados. Um bobo na ingenuidade "abestada", na candura da timidez patética, no deboche simples e escancarado sem um texto prefigurado, meio repententista, meio tiririca, seja lá o que represente o termo. Em segundo, refiri-me à utilidade de que ele, talvez, na sua simplicidade, não alcance a que se prestou. Quantos a sua expressiva votação arrastou ao parlamento federal?

"Útil": quanto a este termo, tem uma estreita relação com o primeiro. A quem interessava a sua eleição? Com os motes: "O que é que faz um deputado federal? Na realidade, eu não sei. Mas vote em mim que eu te conto" e: "Pior do que tá não fica, vote Tiririca" ele sublinhou a falta de propostas de sua candidatura e o descrédito que se há no meio político, mas que foram acatados pelo eleitorado como válida expressão de protesto. O povo não está contente pelo desempenho político de seus representantes, grosso modo: "ruim por ruim, vote em mim!" Mas aflora uma lição dessa "utilidade". Se a eleição de Tiririca não resvalou na criação de um perfil parlamentar ideal, ela, por outro lado, desnudou a hipocrisia eleiçoeira em que estamos chafurdados há décadas: um sistema eleitoral corrupto e desgastado que insiste em permanecer e, todavia, urge ser reformado.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ratosco

Ratosco


Olá! A história que vou relatar é muito incrível. Não imploro para que acredites. Mas quero apenas que me ouças. O teu ouvir, sim, muito me interessa. Escuta meu desabafo.
Mas... Não zombes de mim.

Era uma vez... Eu!

Eu, nestas idas e vindas do ciclo vital, nesta geração nasci rato. Sim, um rato grande e de cor plúmbea. Já fui homem em outras vidas e quase sempre desprezei os ratos. Aliás, não um mero desprezo, mas uma verdadeira perseguição eu encampei contra os ratos, sobretudo na minha última forma humana. Gatos vorazes, arapucas, ratoeiras, refeições com “chumbinhos”... Agora eu sinto no pêlo a ojeriza humana sobre a nossa espécie.

Nasci em um buraco no cais do Porto de Maceió. Fui criado sem pai. A minha mãe teve, segundo me passou, antes de mim, 29 filhotes. Nós ratos somos espertos, mas tememos muitos os humanos. Eles nos humilham e nos dão sempre sentença de morte. Além de nossos predadores naturais como as medonhas serpentes e os terríveis felinos da espécie Felis silvestris catus (os folgados e indiferentes bichanos que hoje estão ficando obesos e nem nos ameaçam como antigamente) há os humanos exterminadores de pragas. Pragas! Imagina... Eles é que nos são uma praga! Uns violadores de nosso direito de viver. Sorte mesmo têm uns indivíduos de outra espécie, mas que são muito próximos de nós. Têm a mesma superfamília Muroidea e a mesma ordem que nós: Rodentia, mas geralmente com uma caudinha meio curta. Ah, esses hâmsteres. São tão paparicados pelos filhotes dos humanos. Comidinha farta... Todos gordinhos... Mas eles vivem na gaiola quando os seus estimados humanos lhes adotam. Bem feito! Estão reclamando de quê?

Nós ocorremos no mundo inteiro. Há uns dez mil anos os humanos começaram a plantar e a colher os cereais para a alimentação nas planícies do Oriente Médio. Daí os nossos ancestrais selvagens escolheram essa nova dieta e migraram para as fazendas e depósitos de cereais. Com a procriação e alastramento dos humanos, nossos ancestrais passaram a coabitar em suas casas, partilhando sua comida e se beneficiando da proteção de suas paredes e telhados. Destarte, o rato selvagem se transformou no rato doméstico e peregrinou sempre em volta dos humanos.

Os sapos são animais feios, horripilantes, mas os humanos não os têm como inimigos figadais. Justificam para nos perseguir umas mazelas como a peste bubônica, a leptospirose, o hantavírus, entre outras. Mas quando alguém tem AIDS eles matam ou buscam remediar a doença? Só que nos laboratórios eles nos maltratam muito. Lá vivemos em verdadeiro campo de concentração, e colocam doenças em nossos semelhantes.

As fêmeas humanas fazem o maior alarido quando nos percebem... gritam, esperneiam, sobem em cima do sofá... Que coisa feia! Somos pequeninos e os humanos são quem nos assustam... Se os humanos nos exterminarem vai haver desequilíbrio ecológico! Até quando será esta perseguição?
Eu sou apenas um rato. O que eu quero é ser feliz!

Nota: É só uma historinha; nada a ver com crença religiosa.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Duo Verba

Senador Fernando Collor:  onírico e visionário.
Presidente Barack Obama: black & white.
Deputado Tiririca: bobo e útil.
Presidente Edir Macedo: ateu e $acana.
Presidente Lula: "popLulista" e o cara(y).
Presidente Ahmadinejad: asqueroso e insolente.
PresidentA Dilma: dema e goga?
Presidente Evo Morales: fantoche e deslumbrado. 
Presidente Hugo Chaves: prepotente e ridículo (¿Por qué no te callas?).

                                        ¡No dije nada!

E apois! [minúsculo ensaio sobre o alagoês]


Sou alagoano e não me engano:
do jeitxo que digo e falo.
Ririam do que m'ufano,
mermo assim eu não me calo.

Nossa prosódia, bem nosso feitxo;
nosso falar bem arraXtado:
“Espia mermo s'isso tem jeitxo”...
Esse sotaque bem africado.

Noutras paragens no ti e no di chiam,
Mas aqui chiam após ditongo:
“eito” fica entre nós eitxo,
por isto dizemos peitxo,
E “eido” fica entre nós eidjo,
Seu exemplo é oblongo
É o flato no vulgar, diriam,
se na frente houver um P.

É que o homem se for afoitxo,
labutador e formidável,
trabalha antes dos dezoitxo.
É desde cedo responsável.

É arretada a nossa flora!
É muitxo lindo o nosso mar...
Só me arreto se for embora
a esperança deXte lugar.

Um dia a EXtrela  haverá de ser...
Radiosa a sua altura;
ser de Alagoas é não temer,
nem mesmo dias d'amargura.

Eitxa povo amiXtoso!
Hospitaleiro e mui leal.
E de espírito ditoso,
e de talento nada igual.

E quem nasce nas Alagoas?
Suspira sonhos, faX toadas...
Taeiras, guerreiros...
paXtoris,  cavalhadas...
Canta poesia, sofeja loas!

E se mangarem da minha fala,
eu vou dar uma de doidjo,
‘tou nem aí, isso é mala!

E p'ra lembrar da infância suave e cheia de bois:
"Boca de forno. Forno!
De cara Xis. Xis!  Fizesse o qu'eu fiz?"
“E apois!”

Em homenagem ao meu Tio Ronald Teixeira Cavalcante, um poeta nato da Viçosa das Alagoas. São Paulo (SP), 23 de setembro de 2010.

Presentatio

Ego sum...



Roberto é minha graça
Nascido do Nascimento
Sou Cavalcante(i), sou raça
De gente com argumento

Tenório eu sou de sangue
Resgatado após casado
Portanto qu'eu não me zangue,
Nem fique contrariado.

Senão a valentia emerge
Dos ancestrais varonis,
Se digo branco é branco, se digo bege é bege;
Mas Deus me contém, sou sereno, pois ser valente eu não quis.

Que meu viver seja útil
Que sempre persevere, nunca olvide do tom
Antes morto do que fútil
Mas valente só no ideário em construir algo bom

Albuquerque sou de Vozé*
Teixeira sou de Vobasto**
De Vozé Maia Rebello até
Dela'inda Padilha e Torres, patronímico muito vasto...
De vô, por Vodondom***, Cerqueira;
Ainda que tanto perdera
A singular nobreza avoinga,
Embora sem eira e nem beira...
Tradição tenho muita e minha semente 'inda vinga.

Von Lintz, alemão, que hoje se diz (de) Lins;
Hollanda que traduz uma origem nerlandesa
De pai e mãe, dessarte, origens afins
Da invasão de outrora... beleza!

Mas vez que mesclado foi meu passado de portugueses, espanhóis, italianos, holandeses;
De alemães pioneiros na Terra de Santa Cruz;
De ameríndios e africaneses,
A quantos genes me expus?

E por isto sou ousado:
Para assinar este blogue e ficar bem elegante,
Buscando o que de direito,
Doravante: Roberto van der Royen Cavalcanti,
Não adianta, não tomo jeito!

S. Paulo, 23 de setembro de 2010 (da casa de Tia Cris, 9h50, que primavera fria! brr...).
N.A.: * Corruptela para Vovó Maria José;
**Corruptela para Vovô Basto Teixeira (Sebastião Teixeira Cavalcante);
***Corruptela para a Bisa Elísia Cerqueira, Donzinha ou como diziam seus netos vovó Dondom.